Opinião de um profissional...

Manifestação em protesto ao atáque sensacionalista cometido pela repórter Monica Waldvoguel

Está cada vez mais difícil distinguir os ingredientes que separam a paranóia, a morbidez e a fantasia, dos reais motivos de crimes bárbaros que são cometidos em nossa sociedade. Talvez por sua falta de propósito, o assassinato de um jovem de 20 anos em Brasília, tenha obscurecido a necessária compreensão que deve-se ter diante de tamanha tragédia. 

A violência que assola o país em todos os níveis sociais tem assustado a todos, contudo, é dever daqueles que possuem responsabilidades com a coletividade um maior equilíbrio emocional. 

No artigo publicado no DIÁRIO POPULAR, do dia 11 de agosto, entitulado "ENSINAR A MATAR", a jornalista Mônica Waldvogel, pior que não conseguir distinguir os tais ingredientes, conseguiu ser irresponsável e inconseqüente nas suas afirmações. 

Estabelecer que: "...as lutas, que apelido tiverem..." "são formas bestiais de agredir" "devem ser banidas da sociedade", chegando a brilhante conclusão que: "...o governo deveria fechar todas as academias que ensinam lutas", são de uma superficialidade e um primarismo vulgar.
E é exatamente isso que assusta, pois quem possui uma coluna de opinião em um importante veículo de comunicação deveria mais do que ninguém, fazer o seu "dever de casa", de checar as informações, se aprofundar no assunto, consultar especialistas e principalmente, evitar elucubrações a partir do senso comum e/ou da sua opinião pessoal. Gerando dessa forma, maior confusão na busca real das soluções para os nossos problemas. 

Atualmente, muitos outros profissionais de educação física têm se utilizado do enorme potencial que as "lutas" podem oferecer no campo da educação especial. Pesquisas e estudos acadêmicos tem referenciado trabalhos nas mais diversas modalidades, como a capoeira com portadores de Síndrome de Down; o judô como diminuição da ansiedade em adolescentes deficientes visuais, trabalho este desenvolvido junto a uma equipe de pedagogos, psicólogos e médicos no Instituto Benjamim Constant, instituição centenária no atendimento dessa população, entre outros. 

Mas a partir das propostas da referida jornalista, terei que parar de desenvolver meu trabalho de Judô - como fator de diminuição das defasagens psicomotoras em crianças portadoras de deficiência visual - ou senão, se algum dia encontrarem um cego quebrando a bengala na cabeça de outro, poderei ser responsabilizado criminalmente e até responder a uma reeditada e interessante Lei de Segurança Nacional.
Desculpem a ironia, mas não se pode levar a sério o conteúdo do artigo da jornalista, e volto a afirmar, isso é o que mais me apavora, pois uma mentira contada muitas vezes, nunca será uma verdade; mas um engano, realçado de boa intenção e potencializado pelo medo, pode se tornar um preconceito.
Problemas como os de Brasília, são mais profundos, complexos e dinâmicos do que supõe a jornalista Mônica Waldvogel e acredito que recordar alguns episódios que aconteceram muito recentemente, possam nos levar a um melhor direcionamento. 

Episódio 1 - Um grupo de universitários são responsáveis diretos pela morte de um jovem estudante, em algum tipo de ritual de iniciação idiota em uma das mais famosas universidades do país;
Episódio 2 - Um estudante é flagrado por uma câmera de segurança, em uma loja de conveniência na Zona Sul do Rio de Janeiro, em um ato violento e gratuito de ataque a socos e pontapés ao rapaz que o atendia;
Episódio 3 - Um outro estudante entra em uma sala de cinema, lotada e derrepente saca uma arma automática e sai metralhando a todos. 

O três acontecimentos tem dois pontos em comum que se destacam, além do fato de que todos os protagonistas eram de classe média, de grandes centros urbanos e da gratuidade de seus atos. Nenhum deles praticava algum tipo de luta, todos eram estudantes de Medicina.
Não irei me aprofundar, mas não acredito que o juramento de hipócrates aborde tais comportamentos, ou que a escola de medicina tenha subvertido suas disciplinas.
Estes casos somam-se a outras tantas histórias que estão acontecendo todos os dias, nos cabe questionar qual será nossa responsabilidade como profissionais da comunicação, da educação, como pais, como família, enfim, como sociedade. 

Acredito que possamos todos tirar proveito do desastroso artigo, ou melhor, uma pauta enorme de discussões que aí sim considero pertinentes, como: Qual será o papel dos professores de "lutas" em uma sociedade sem "balisamento"? Existe diferença entre professores (jovens) que são praticantes e os formados em Ed. Física, face aos novos tempos? Que jovens são esses que vão buscar uma profissão que deve salvar vidas, se não dão valor a ela? E principalmente, nós professores estamos operando mudanças efetivas no comportamento desses jovens, ou instrumentalizando-os perigosamente?!
Procurar as respostas necessárias, estabelecer os nexos de causa e efeito, saindo do senso comum em direção a um senso crítico e aprofundado é tarefa de todos nós. Quanto aos argumentos da jornalista, bem, tem muitas raízes, mas a maior delas é a ignorância.


Prof. Walter Russo Júnior

Pós-graduado em Treinamento Desportivo em Judô - CCFEx./UFRJ
Mestrando em Ciências do Desporto - IEFD/UERJ

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